me disseram que todas as palavras de amor já foram ditas. Será por isso que te amo em silêncio?
não me explique, porque os desejos são líquidos... é a corda... é o nó... de todas as vidas por trás da minha...
Se eu soubesse dobrar origamis,
quem sabe eu encontrasse as minhas pernas perdidas
(no meio deste sonho) de papél. Cansadas... Coitadas...(de tanto viver) este
amor. Quem sabe eu pudesse encontrar as minhas pernas (encantadas – coitadas! em calçadas – e contrarias) a mim
mesma. Em cartas. Em notas. Em
senso. Um dia. Em versos. E
fábulas. E mudos relógios. E eu as convidaria, elas (as minhas pernas) e
encheria a minha noite (de cor). De todas as cores. E a lua. E as pedras. E os
perfumes. E tudo andava-me pelas ruas (da menina) em mim. E quem sabe eu
amaheceria (parecendo) mesmo gente (grande) feliz. Sem o olhar extático da aurora. Eu
sei que este meu amor é um transbordamento aos teus ouvidos. Eu sei. Então eu só peço
(as minhas pernas) que repousem (quietas). Muito quietas. Este é o grande afeto
que te deixo. Sem o exaspero das lágrimas. Sem a fascinação das promessas. Quieta.
Misteriosa. Palavras (dos véus) da alma. Bebendo da tua boca. O perfume dos
sorrisos. Despeço-me com um beijo teu (nos meus lábios) vermelhos.
Ah! Se eu fosse um casulo e não versos inspirados...]
falcão ou gaivota?
meu ninho é o teu colo
meu refúgio...
é você,
é isso,
que eu precisava tanto dizer...
Um dia, o maestro Antônio Carlos Jobim, atônito com a
inconstância amorosa de seu parceiro, perguntou ao poeta Vinicius de Moraes:
'Afinal, poetinha, quantas vezes você vai se casar?' Vinicius (...) num dos
seus improvisos de sabedoria, respondeu: 'Quantas forem necessárias'. O maestro
não devia estar assim espantado. A inconstância foi um defeito que Vinicius
transformou em suprema qualidade. Um erro feliz. Ela não tomava conta apenas de
sua vida amorosa, mas dava o tom de sua relação com o mundo. Talvez nem fosse
inconstância. Era, seguramente, um atributo que não devia ser confundido com a
leviandade, com infidelidade ou fraqueza de caráter. Vinicius foi um homem sem
limites, que não admitiu poupar a vida como se ela fosse um estoque limitado e
frugal de emoções, que não permitiu que a avareza triunfasse sobre a
generosidade. Tornou-se, com os anos, um homem abundante, que não tinha nenhum
respeito por sentimentos melindrados como o medo, o comedimento ou a
mesquinhez.
(José
Castello, em Livro de Letras, Vinicius de Moraes)
TERNURA
[Vinicius de Moraes]
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade
o olhar extático da aurora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pelo elixir ardente de versos [dizem alguns], são capazes de arrebatar paixões, no entanto, gosto de ser apenas uma ilustre desconhecida. Não sou uma Poeta de desterro algum, sou uma mulher apaixonada, autora de versos dilacerados, vaporosos, transcendentais. Não estou aqui para gerar paixões indefiníveis, mas se os meus versos ganharem o mundo? Lhes sou grata, celebrarei então, mas só depois de morta. Eu preciso ter asas para ensinar a minha alma. Obrigada pela boa, e pela má leitura. Kiss.